Você certamente já deve ter sido surpreendido por alguma propaganda envolvendo a Betzord, ainda mais se é uma daquelas pessoas dispostas a investir e apostar em jogos esportivos, especialmente na área de futebol. Na prática, o termo dá nome a uma plataforma que promete a todo custo ensinar seus clientes a ganharem dinheiro através de apostas esportivas. Mas é claro que sua história não se resumiria somente a isso. A promessa traz diversas polêmicas, e é sobre isso que falaremos daqui em diante. Acompanhe no decorrer desta matéria!

“De preto favelado a milionário com futebol. Ex-lavador de pratos e limpador de chão. Atual Investidor Esportivo, com alunos em mais de 55 países e reconhecido mundialmente no mercado como uma das maiores referências de investimentos esportivos”, é o que se define Lucas Tylty, a mente por trás do Betzord, em suas redes sociais. Na descrição do site, Lucas ainda se autointitula como fundador da plataforma, mentor e guia “dentro da mina de ouro dos investimentos”. Seria ele o personagem principal que gerou mandados de busca e apreensão na casa de vários famosos?

Afinal, o que faz a Betzord?

Em seus registros iniciais, a plataforma foi batizada com o nome fantasia “Futebol Trade”. Mas, desde 8 de Janeiro de 2020, a Betzord está registrada na Receita Federal com o nome oficial de Primontent Produções Digitais LTDA, com sede em Cuiabá (MT).

Sua atividade econômica principal no documento do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) está descrita como “Tratamento de dados, provedores de serviços de aplicação e serviços de hospedagem na Internet”. Mas, não é bem assim na prática.

Como já mencionado, a Betzord funciona como uma espécie de plataforma de cursos que ensina seus clientes a investir e apostar em jogos esportivos, especialmente na área de futebol. “Você está prestes a conhecer a técnica mais assertiva dos investimentos esportivos”, ressalta um dos slogans da empresa.

Apesar de serem 3 sócios, só quem aparece como principal responsável à frente da empresa e “a mente por trás do Betzord” é o tal Lucas Tylty.  Os “novos alunos”, por sua vez, são atraídos especialmente pelas redes sociais. Para isso, o grupo usa técnicas de Marketing Digital, mas faz grandes parcerias com famosos e influenciadores digitais locais para captar novos clientes.

Inclusive, o astro Ronaldinho Gaúcho, eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA duas vezes (2004 e 2005), já teve seu nome associado à Betzord, como embaixador da marca.

A tamanha fama da empresa levou a grandes patrocínios, como jogos da seleção brasileira e de times da Série A. O próprio Tylty aparece em suas redes sociais ao lado de jogadores como Neymar e outros influencers, sempre aparentando uma vida de viagens e muito luxo. E, como se não bastasse, dezenas de eventos com participação de centenas de influencers embalaram ainda mais a divulgação da “marca”.

Da fama ao escândalo

Até então, tudo parecia andar sobre trilhos perfeitamente encaixados. Foi quando dois mandados de busca e apreensão nas mansões dos influenciadores digitais Deolane Bezerra e Tirullipa, em Alphaville (SP), colocaram a Betzord sob o holofote da imprensa e das redes sociais.

No entanto, a empresa — que se descreve como um grupo de “investimentos esportivos” — já estava há tempos na mira da Polícia Civil de São Paulo. Na ação, a corporação encontrou e apreendeu 4 folhas de cheque preenchidas no valor de R$ 30 mil e mais de R$ 27 mil em dinheiro.

Isso porque a Betzord — que tem como donos, além do influenciador Lucas Tylty, Matheus Gomes e Rafael Gomes — está sendo investigada pelo Ministério Público de São Paulo por um suposto crime contra a economia popular. E não para por aí, a investigação ainda alega associação criminosa. Deolane e Tirullipa, por sua vez, entraram na investigação por publicidade supostamente ilegal promovida por empresa investigada.

Além disso, o site do Reclame Aqui reúne mais de 800 reclamações contra a plataforma. A maior parte delas diz respeito à “propaganda enganosa”, “não recebimento do prêmio” e “pedidos de reembolso”. Algumas também se referem a problemas com o suporte que “nunca funciona”. A saber, o plano para ter acesso às aulas custa quase R$ 1,4 mil.

Em sua maioria, os usuários dizem ter adquirido um plano da Betzord após seguir dicas de influenciadores digitais. “Comprei o curso através de um grande influencer de Goiás, eu já vi vários falando a respeito e sempre tive vontade de comprar e nunca dava coragem. Até que comprei (…) senhor, que arrependimento, porém insisti pois estava precisando muito”, relatou uma mulher no Reclame Aqui.

O que diz a defesa?

Em um comunicado na página do Instagram, a empresa Betzord afirmou que não possui qualquer irregularidade em seus negócios. Disse ainda que está procurando as autoridades policiais para provar a legitimidade das transações.

“A BETZORD tomou conhecimento que está sendo investigada por autoridade policial, em inquérito originado para apurar o comércio de rifas nas redes sociais. A empresa está buscando as autoridades policiais para demonstrar que sempre atuou de forma correta e em estrito respeito às normas legais”, diz um trecho da nota divulgada e assinada pelo advogado Huendel Rolim.

Por outro lado, os influenciadores afirmaram que apenas tinham contratos de publicidade e patrocínio com a plataforma e que desconheciam qualquer envolvimento em suposto esquema criminoso da empresa.

Caça a investidores

Em suma, a Betzord “caça” investidores por meio de publicidade, sobretudo nas redes sociais. Ela oferece nada mais nada menos do que uma modalidade de curso técnico para apostas esportivas, como citado acima. 

Além disso, para atrair público, ela ainda oferece 7 dias grátis para que as pessoas se sintam seguras em comprar o produto com cartão de crédito. Quem assina ainda ganha um robô pronto para estimular essas apostas 24 horas por dia.

Dezenas de artistas foram bancados pela Betzord em troca de publicidade, outros foram nomeados como embaixadores, como é o caso da própria Deolane Bezerra, em 2021. Mas, logo de cara, alguns verificaram que se tratava de uma legítima cilada. Outros nomes, assim como o próprio Lucas Tylty, chegaram a anunciar que se as pessoas quisessem ficar ricas como elas são, deveriam comprar o produto para aprender a jogar. Muitas pessoas até compraram por esse motivo, mas claramente não ficaram ricas.